123 Douradores

O edifício, alvo de intervenção, foi construído no primeiro quartel do séc. XIX no gaveto do quarteirão da rua dos Douradores e a rua de Santa Justa em plena Baixa Pombalina de Lisboa.
Em 2016, quando se iniciou o projeto de reabilitação, o edifício encontrava-se praticamente devoluto. Os três apartamentos com moradores eram habitados em condições totalmente precárias. As infraestruturas de águas e eletricidade, que não existiam no edifício original, estavam em total degradação.
As condições estruturais do edifício encontravam-se bastante fragilizadas devido à demolição de paredes resistentes ao nível do piso térreo. Estas demolições provocaram o assentamento dos pavimentos de todos os apartamentos, criando desníveis que em alguns compartimentos atingiam 20 cm.
Tirando partido da situação de gaveto do edifício e possuir 2 frentes de rua propôs-se a alteração de dois apartamentos para três apartamentos por piso, mantendo a estrutura Pombalina original de sucessão de espaços.
De modo a responder às exigências contemporâneas de conforto e mobilidade, introduziu-se um elevador numa zona central do edifício, salvaguardando a integridade da caixa de escadas original.
A primeira fase de obra do edifício iniciou-se em 2017 com o objetivo de corrigir as deficiências estruturais, reabilitar a cobertura e uma das lojas do piso térreo.
Com a conclusão da primeira fase as obras pararam durante seis meses. Nesse interregno, para além das sondagens estruturais, solicitaram-se sondagens ao nível dos frescos, pinturas parietais e de tetos.
As sondagens parietais vieram a confirmar a existência de sucessivas camadas de frescos e pinturas a têmpera em todos os apartamentos do edifício.
Ficou nessa altura evidente que os frescos escondidos durante décadas por trás das sucessivas camadas de pinturas deveriam ser revelados e que a sua preservação era uma das questões mais relevantes de todo o processo de intervenção.
Todo o projeto de execução já desenvolvido teve de ser reajustado para impedir qualquer roço nas paredes, tal como acontece numa obra convencional. Procuraram-se novos caminhos para as infraestruturas nos tetos e nos pavimentos.
Decidiu-se também não proceder ao restauro dos frescos, nem hierarquizar as diferentes campanhas. Optou-se por deixar os vestígios sobrepostos, incompletos, com falhas. Procurou-se expor a complexidade do edifício revelando a multiplicidade das suas transformações ao longo do tempo.

localização rua dos douradores, lisboa, portugal
projeto 2020
cliente privado
arquitetura josé adrião – coordenação
ricardo aboim inglez – chefe de projeto
ana grácio, gonçalo ponces, joão albuquerque matos, margarida pereira, tomás forjaz
estabilidade ara – alves rodrigues associados
especialidades pensamento sustentável
revelação de frescos conservação e restauro – elvira barbosa lda
empresa de construção 1a fase vps
fiscalização 1a fase teixeira trigo
empresa de construção 2a fase x-log
fiscalização 2a fase hp engenharia
fotografia existente hugo santos silva
fotografia obra nuno almendra
fotografia concluído fernando guerra
vídeo minnie freudenthal e manuel rosário


























