CONTEXTO

As grandes cidades em Portugal, e Lisboa em particular, vivem atualmente uma crise profunda de acesso à habitação, tal como acontece em muitas outras na Europa e no mundo. Entre os anos cinquenta e oitenta do século XX, o Estado Português delineou planos habitacionais no sentido de erradicar os bairros de génese ilegal em Lisboa e proporcionar habitação condigna a todos os cidadãos, com especial ênfase na população com maiores carências económicas.  A partir dos anos noventa, com a introdução de políticas liberais no país, a construção de nova habitação tornou-se essencialmente um produto monetário gerido por entidades privadas e as Políticas de Habitação Pública tornaram-se residuais.

OBJETIVO

A Exposição Habitar Lisboa, comissariada pela arquiteta Marta Sequeira, teve como objetivo criar um fórum de discussão das Políticas de Habitação do Estado Português na capital do país, durante 50 anos. Desde o período precedente à Revolução dos Cravos, em abril de 1974, até à atualidade.

A Garagem Sul do CCB (Centro Cultural de Belém) foi, na função original, um estacionamento automóvel, tendo sido posteriormente transformado num Centro de Arquitetura – Garagem Sul.

A montagem de uma exposição relacionada com o Habitar, suscitou à partida algumas questões que se tornaram centrais no desenho do projeto expositivo. Como transformar um espaço de garagem num lugar que contivesse algumas das palavras que normalmente utilizamos quando falamos de Habitar, tais como: conforto, vizinhança, partilha, espaços comuns, logradouro, intimidade, privado, público?

PROJETO

Propôs-se a construção de uma estrutura em madeira, que procura materializar a ideia de um quarteirão urbano, de um só piso, que se abre para tanto para o exterior, como para um espaço interior de logradouro. No exterior foram colocados cartazes com palavras de ordem retiradas das manifestações que reclamaram políticas habitacionais nos últimos 50 anos. No interior criou-se um grande espaço disponível para debates e fóruns.

A estrutura autónoma construída em madeira conferiu conforto acústico e térmico ao espaço de garagem de 1800 m2. Os módulos recriaram células com uma área semelhante à de um apartamento. Nestes foram expostos os diferentes projetos mais relevantes construídos em Lisboa desde os anos 70 até hoje, os projetos em curso de novos programas habitacionais, dados informativos, estatísticos e depoimentos de arquitetos, arquitetos paisagistas, sociólogos e geógrafos.

O sistema expositivo foi elaborado considerando a preservação das dimensões de fábrica, desta forma todas as peças que constituem as paredes, o chão, os suportes expositivos, os candeeiros – todos os elementos da exposição construídos em madeira – possam no final ser desmontados e voltar à fábrica, para futura reutilização.